Há dois dias, foi publicado o edital do CACD 2017, e há diversas mudanças no que diz respeito às provas de inglês se comparado com editais de outros anos. Faço aqui uma breve análise dessas mudanças e de suas implicações para aqueles que se preparam para mais uma bateria de provas!
A. Prova objetiva
A prova continua tendo 73 questões no total, e o formato continua sendo questões de certo ou errado. Contudo, o número de questões de língua inglesa foi reduzido de 13 para 9. Atente para essa mudança quando estiver fazendo simulados de primeira fase de língua inglesa: se o candidato tem, em média, um pouco menos de cinco minutos para resolver cada questão (são 73 questões em 6 horas de prova), tente concluir cada simulado de língua inglesa em até 45 minutos. É claro que o tempo de resolução da prova depende muito da extensão dos textos que serão selecionados e do nível de complexidade desses textos e das questões, mas esse limite de tempo sugerido é uma baliza importante a ser levada em conta para que você não seja prejudicado nas provas das outras disciplinas por falta de tempo para completá-las.
B. Prova escrita
B.1. Tarefas
A prova escrita de língua inglesa continua sendo composta por uma redação (50 pontos), um resumo (15 pontos), uma tradução para o português (20 pontos) e uma versão para o inglês (15 pontos). A boa notícia é que agora os candidatos têm cinco horas (e não mais quatro) para resolvê-la!
Faça uso desse tempo “extra” com sabedoria: se você já conseguia completar os simulados escritos em quatro horas, use esse tempo a mais para fazer mais de um proofreading de cada uma das tarefas. Na redação, por exemplo, se você tem dificuldade com o uso do artigo definido, faça um proofreading só avaliando a necessidade de uso desse artigo em cada noun phrase que você desenvolver; na tradução para o português, faça o proofreading uma primeira vez comparando seu texto ao texto-fonte (para avaliar a fidelidade) e outra vez com enfoque apenas no texto que você produziu (para avaliar a gramaticalidade e a naturalidade no idioma-alvo). Proofreading não é algo para ser feito se der tempo: é parte essencial da realização de cada uma das tarefas.
B.2. Segunda Fase
A prova escrita de língua inglesa agora é realizada na segunda fase do concurso, assim como a prova de língua portuguesa, passando a ser uma prova não só classificatória, mas também eliminatória. Para ser aprovado na segunda fase do concurso, o candidato deve obter o mínimo de 60 pontos na prova de língua portuguesa e, agora, o mínimo de 50 pontos na prova de língua inglesa também.
Não há dúvidas de que essa mudança vai deixar de fora da terceira fase muitos dos candidatos que, ainda que tenham bons conhecimentos de língua inglesa, não se prepararam para a prova escrita do idioma, deixando assim de praticar as habilidades específicas cobradas em cada uma das tarefas e, em última instância, de conhecer um pouco mais sobre a “jurisprudência cespeana” (no caso, como a banca de língua inglesa costuma avaliar certas estruturas gramaticais e escolhas lexicais, por exemplo).
Entretanto, se você já vem estudando para a prova escrita de inglês do concurso com disciplina e organização, não se esqueça de que, além de eliminatória, a prova é classificatória: a estratégia de preparar-se apenas para as tarefas de redação e resumo pode ser suficiente para evitar a eliminação, mas deixar as tarefas de tradução e versão a cargo da sorte me parece muito arriscado em um concurso com apenas 22 vagas para a ampla concorrência. (Leia mais sobre isso aqui e aqui.) Você não quer apenas evitar a eliminação: você quer passar no concurso! Assim, não pense apenas no caráter eliminatório da prova.
B.3. Critérios de Correção
Em um primeiro momento, fiquei muito contente quando vi aquele quadro com os critérios de correção detalhados no edital. Mas, analisando o quadro com mais atenção, acredito que é preciso ao menos ter em mente que algumas das formulações não são exatamente claras – e pensar em formas objetivas de lidar com essa falta de clareza.
Redação
Até o ano passado, os 50 pontos da Redação eram distribuídos em 20 de organização, 20 de precisão e 10 de qualidade de linguagem. Agora, temos 25 pontos atribuídos a organização e os outros 25 atribuídos a precisão e linguagem. Imagino que a pontuação de organização continue sendo uma nota global e que a de precisão e linguagem continue sendo descontada ponto a ponto conforme os erros do candidato, mas isso não está declarado no edital.
Acho relevante destacar que a legibilidade agora é declaradamente um critério de avaliação. Cuidado com a aparência final do seu texto devido ao número e à extensão das rasuras. Se julgar pertinente, dedique parte dessa uma hora “extra” de prova para produzir um rascunho mais “limpo” da redação.
Além disso, os critérios “capacidade de argumentação” e “capacidade de análise e reflexão” deixam claro, mais do que nunca, que o gênero textual esperado é argumentativo, não descritivo. Certifique-se de que você tem uma tese clara a respeito do tema proposto e de que ela está claramente declarada na introdução de seu texto, o qual deve ser desenvolvido com o objetivo não de descrever o tema, mas de corroborar sua tese sobre o tema. A esse respeito, faço minhas as palavras de Thomas S. Kane, no The Oxford Essential Guide to Writing:
“Don’t be afraid to express your own opinions and feelings. You are a vital part of the subject. No matter what the topic, you are really writing about how you understand it, how you feel about it. Good writing has personality. Readers enjoy sensing a mind at work, hearing a clear voice, responding to an unusual sensibility. […]. Interest lies not so much in a topic as in what a writer has made of it.”
Tradução e Versão
Minha primeira preocupação é o critério “fidelidade ao estilo do texto original”. Imagino que “estilo”, aqui, tenha o sentido de “escolha de palavras”; ou seja, continua sendo importante que o candidato atente não apenas à mensagem do texto, mas também às palavras escolhidas para passar essa mensagem — mas não confunda fidelidade com literalidade. Minha segunda preocupação é como serão distribuídos esses cinco pontos: até o ano passado, problemas com traduções “infiéis” eram apenados com -1 ponto a cada erro, mas será que agora esses cinco pontos serão uma nota global? Essa é a mesma preocupação que tenho com o critério “correção gramatical”: o candidato já perdia pontos quando, no texto de chegada, cometia erros na língua de chegada, mas agora continua a valer essa prática de -1 ponto para cada erro? Ou estamos falando de notas globais?
Resumo
Até pelo menos o CACD 2015, o resumo, que também valia 15 pontos, era avaliado nos critérios use of English (3 pontos, uma nota global que avaliava gramática e léxico) e summary (12 pontos, outra nota global que avaliava capacidade de concisão, organização do texto etc.) — leia mais aqui. Já no CACD 2017, o peso passa a estar na precisão gramatical e lexical: são 10 pontos atribuídos a “correção gramatical e propriedade da linguagem” e 5 pontos para “capacidade de síntese e concisão”. Assim como nas traduções, a dúvida é se a nota de correção gramatical e propriedade de linguagem será global, como antes, ou se será descontada ponto a ponto conforme o candidato for cometendo erros.
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Qualquer que seja sua estratégia de estudos para as próximas semanas, no que diz respeito à língua inglesa, é fundamental que você não se prepare apenas para a primeira fase, já que não há tempo hábil de desenvolver as habilidades testadas na prova escrita de inglês nas poucas semanas que separam a primeira fase da segunda fase. Além disso, ao preparar-se para a segunda fase, certifique-se de que seu cursinho ou professor particular faça as correções de seus simulados com base nos novos critérios. É verdade que só saberemos as respostas para os questionamentos que aqui expus após vermos as correções das provas de segunda fase, mas é crucial que você e seu professor considerem as possíveis interpretações desses novos critérios e busquem desenvolver estratégias que possibilitem que você tenha um bom desempenho qualquer que seja a interpretação correta.
Cheers!