Dando sequência ao post em que discuti a importância de estudar tradução, não só para as tarefas de tradução da prova de inglês na terceira fase do CACD, mas também como método para incrementar a competência na língua inglesa, hoje escrevo sobre algumas formas de dar início a esses estudos sem a instrução de um professor/tradutor.
Publicações bilíngues
Analise o trabalho de outros tradutores! Isso permite que você reflita sobre as decisões que precisam ser tomadas quando se traduz um texto. Comece por textos curtos, sobre temas que você conhece bem, e vá progredindo para textos mais longos e mais complexos em termos semânticos e sintáticos. No site do Itamaraty, por exemplo, há vários textos em português, como notas e discursos, acompanhados de versões para a língua inglesa.
Para os que já buscam maiores desafios, edições bilíngues de obras literárias são uma ótima opção. Existe uma coleção de livros bilíngues da qual gosto muito, por sua praticidade, publicada pela editora Landmark. A coleção tem títulos clássicos como Dracula, Moby Dick e até nosso querido Orlando, de Virginia Woolf. Essas são boas opções para quem quer estudar o par inglês-português. Para quem deseja estudar o par português-inglês, uma ideia é procurar a versão para o inglês de alguma obra em português que você já leu. Eu gostei de ler, mais recentemente, Barren Lives (versão de Vidas Secas, de Graciliano Ramos), Confession of the Lioness (versão de A Confissão da Leoa, de Mia Couto) e The Hour of the Star (versão de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector), por exemplo.
Exercícios de tradução
Practice makes perfect! Além de estudar traduções já prontas, é essencial que você também traduza. Uma obra de referência para translators in training é o Vocabulando Pack, de Isa Mara Lando. O Vocabulando Pack consiste em um dicionário de falsos cognatos e de termos mais complicados de traduzir (por sua polissemia, por exemplo) e um workbook com exercícios de tradução. Recomendo o uso da edição mais nova (capa vermelha), pois está atualizada e mais completa.
Outro exercício recomendado é selecionar um trecho curto de uma publicação bilíngue e, antes de ler a tradução já pronta, tentar, você mesmo, traduzi-lo. Depois, compare seu texto de chegada com o texto do tradutor. É claro que seu texto não precisa ser – e muito provavelmente não será – igual ao do tradutor, até porque, normalmente, há diversas possibilidades de tradução para o mesmo texto. Mas compare os dois textos em termos de precisão semântica e sintática, fidelidade ao texto fonte, naturalidade no idioma de chegada etc. É bem possível que, se você estiver fazendo esse trabalho sem o auxílio de um professor/tradutor, alguns erros ou “pontos a melhorar” passem desapercebidos, mas, ainda assim, há muito a se ganhar com esse exercício! Ele pode ser feito com ou sem apoio externo (dicionários, glossários etc.), dependendo do seu objetivo com esse exercício.
Estudos de Tradução
Estudar teoria da tradução não é um requisito essencial para começar a traduzir. Até historicamente, a prática da tradução precede a teorização em centenas de anos. Mas ter algumas noções teóricas ajuda a tornar o ato tradutório algo mais consciente e crítico – e é claro que isso tem impactos extremamente positivos tanto no processo de aquisição de uma língua estrangeira quanto no próprio produto final do processo de tradução. O que não falta é literatura nessa área de conhecimento. Algumas obras indicadas, para quem se interessar, são Oficina de Tradução, de Rosemary Arrojo, Tradução: Teoria e Prática, de John Milton, Introducing Translation Studies, de Jeremy Munday, e Translation and Translating, de Roger T. Bell.
Cheers!