As tarefas da tradução e da versão, na terceira fase do exame, preocupam muitos candidatos, já que elas exigem não só conhecimentos avançados tanto do inglês quanto do português, mas também habilidades avançadas de tradução, algo que normalmente não desenvolvemos quando aprendemos o inglês como língua estrangeira – principalmente em cursos comunicativos. Talvez a maior preocupação de muitos candidatos seja a tênue linha que separa a fidedignidade ao texto fonte e a naturalidade no idioma alvo – os quais são critérios de correção, conforme os Guias de Estudos. Essa é uma preocupação legítima – e inclusive compartilhada por uma comunidade mais ampla de tradutores -, porém não podemos confundir fidedignidade da tradução com literalidade da tradução. A tradução literal é um procedimento de tradução que, quando usado corretamente, de fato permite que uma tradução seja considerada fidedigna, porém ela é apenas um procedimento, dentre tantos outros, e como tal precisa ser usada de forma crítica. O objetivo deste post é fazer um rápido apanhado de procedimentos de tradução, pensando especificamente nos procedimentos conhecidamente aceitos pela banca examinadora do CACD, e assim propor uma reflexão sobre a questão da fidedignidade ao texto fonte.

O último Guia de Estudos do CACD que trouxe uma seção de “bibliografia sugerida” para as provas de inglês foi o de 2010. A bibliografia foi apresentada em cinco subseções: jornais e revistas, dicionários de inglês, dicionários inglês-português e português inglês, gramáticas, e outras fontes. É interessante notar nessa lista que o único material que aborda questões metodológicas e conceituais relacionadas às tarefas da tradução e da versão – e que curiosamente está na subseção de gramática – é o Guia Prático de Tradução Inglesa, escrito pelo diplomata aposentado Agenor Soares dos Santos.

Guia Prático de Tradução Inglesa, edição de 1981

O Guia Prático foi publicado pela primeira vez em 1981 pela editora Cultrix e foi reimpresso diversas vezes e por muitos anos sem qualquer alteração. Apesar de o Guia de Estudos fazer referência específica a essa edição da obra, o Guia Prático foi publicado novamente em 2007, porém em uma edição revisada, ampliada e atualizada, pela editora Campus/Elsevier. O livro ganhou um novo subtítulo (o da primeira edição era comparação semântica e estilística entre os cognatos de sentido diferente em inglês e português e o da nova edição é como evitar as armadilhas das falsas semelhanças), porém o próprio autor adverte, no capítulo de apresentação da nova edição, que o objetivo, as linhas gerais e a área de estudos tratada deste trabalho e do anterior são próximos. O autor esclarece, em termos de diferenças entre os dois trabalhos, que “naquele livro [a edição antiga] não se encontrariam, porém, a abordagem, o volume e a melhor qualidade do material pesquisado e utilizado, o grande número de temas novos e o índice de autores mencionados”.

Guia Prático de Tradução Inglesa, edição de 2007

O livro é sem dúvida uma obra de fôlego e é aparentemente muito referenciado entre tradutores profissionais. Ele é divido em quatro partes, sendo que a segunda delas é o centro da obra: um dicionário de faux amis, ou seja, de cognatos com um ou mais sentidos diferentes na tradução do inglês para o português. São mais de 700 páginas de estudos detalhados do que o autor chama de “cognatos enganadores”, como o que vemos abaixo:

Verbete “dispatch” da edição de 2007

Essa Parte 2 do livro já seria um motivo mais do que suficiente para um candidato que vai fazer o CACD se interessar pela obra, porém me interessa aqui particularmente a Parte 1 do livro. Essa parte é denominada Conceituação e outros estudos, e nela o autor faz diversas considerações de interesse para quem, seja por motivos profissionais seja por outros motivos, está preocupado com questões técnicas e metodológicas no que diz respeito ao ato tradutório. Suponho que isso seja de algum interesse para candidatos que farão o concurso, já que se esse é o único livro da lista de bibliografia sugerida para as provas de inglês que traz reflexões técnico-metodológicas sobre tradução, não parece ser uma hipótese improvável que a visão da banca examinadora sobre as tarefas de tradução e versão esteja, se não totalmente, ao menos em grande medida informada pelos posicionamentos de Agenor Soares dos Santos nessa Parte 1 do livro.

Nesse sentido, o que mais interessa nessa parte do livro é uma seção chamada concepção, objetivos e metodologia do dicionário, e mais especificamente a parte em que ele trata de procedimentos de tradução. A maior referência para o autor nessa seção parece ser a obra Stylistique Comparée du Français et de L’Anglais, de Vinay e Darbelnet, publicada em 1958 (e em 1995 na edição americana Comparative Stylistics of French and English). Trata-se de um clássico da teoria da tradução, o qual teve ampla recepção no Brasil. De acordo com Francis H. Aubert (um dos maiores nomes da tradutologia no Brasil – usarei livremente neste post alguns dos exemplos que ele menciona em um artigo), nessa obra, Vinay e Darbelnet propuseram procedimentos técnicos de tradução que tinham o objetivo inicial de servir como referência didática para o treinamento de tradutores.

Vinay e Darbelnet preveem nesse livro sete métodos de tradução, os quais estão agrupados em duas categorias abrangentes: a tradução direta e a tradução oblíqua. A tradução direta seria a opção do tradutor quando é possível transpor elemento por elemento da língua fonte para a língua alvo, devido à existência de um paralelismo estrutural e metalinguístico entre os dois idiomas. Por sua vez, quando há diferenças estruturais ou metalinguísticas entre as duas línguas e não é possível fazer a transposição sem mexer na estrutura sintática ou mesmo no léxico, temos a tradução oblíqua.

Há três métodos associados à tradução direta: a tradução literal, o empréstimo e o decalque. A tradução literal é o que também chamamos de word-for-word translation; ou seja, quando comparamos dado segmento do texto fonte com o texto alvo, encontramos o mesmo número de palavras, na mesma ordem sintática, empregando as mesmas classes de palavras, e a escolha de sinônimos lexicais. Um exemplo seria traduzir her name is Mary por seu nome é Maria. O empréstimo, por sua vez, é usado quando há alguma lacuna metalinguística (por exemplo uma técnica ou um conceito desconhecido na língua alvo). Nesses casos, o segmento do texto fonte é simplesmente reproduzido no texto alvo – às vezes em itálico, em negrito, entre aspas, ou mesmo sem marcadores. É o caso, por exemplo, de milk shake ou software. Já o decalque é um tipo especial de empréstimo, no qual uma língua empresta uma expressão de outra ou com adaptações ortográficas ou traduzindo literalmente cada um de seus elementos. Podemos pensar como exemplos as palavras sky scraper e abat-jour, do inglês e do francês respectivamente, que em português são traduzidos como arranha-céu e abajur.

Quanto à tradução oblíqua, podemos falar em quatro métodos: transposição, modulação, equivalência e adaptação. A transposição consiste em, de alguma forma, não observar algum critério da tradução literal, rearranjando morfossintaticamente o texto. Isso acontece, por exemplo, quando duas palavras são transformadas em uma (I bought = Comprei), ou uma palavra é expandida em mais de uma unidade lexical (Kindergarten = Jardim de infância), quando há qualquer alteração na ordem das palavras (blue car = carro azul), ou quando há mudança em classes de palavras (should he arrive late = se ele chegar atrasado). Assim, mesmo que os significados sejam traduzidos literalmente, se não há uma literalidade estrutural, trata-se de uma transposição – e é claro que a transposição é em muitos casos obrigatória devido à estrutura morfossintática da língua alvo. A modulação, por sua vez, é a tradução de um segmento de texto com uma mudança evidente da estrutura semântica, porém com a manutenção do significado geral do segmento. É, por exemplo, traduzir it is very difficult como não é fácil ou he acted at once como ele não hesitou. Já as equivalências são casos mais radicais de modulação, muito comuns, por exemplo, para expressões idiomáticas, ditos populares etc. É o caso de traduzir it’s raining cats and dogs por está chovendo canivete ou better lose the saddle than the horse como antes um pássaro na mão que dois voando. Por fim, a adaptação é um procedimento cultural assimilativo, no qual o ato tradutório se satisfaz com o estabelecimento parcial de uma equivalência de sentido. É como, por exemplo, traduzir sheriff como delegado. Se a tradução literal e o empréstimo são as modalidades de tradução que mais guardam proximidade do segmento original com o segmento traduzido, a adaptação está no outro extremo, sendo considerado o limite da tradução.

Feito esse rápido e superficial apanhado dos procedimentos de tradução de Vinay e Darbelnet, é interessante notarmos a leitura que Agenor Soares dos Santos faz deles no Guia Prático. Para ele, “uma das melhores metodologias para a formação do tradutor de inglês” é a transposição. Ele diz que esse é o “mais comum e mais simples procedimento” e que ele mesmo faz uso desse procedimento em mais de 400 verbetes de seu dicionário de cognatos enganadores. O autor também declara fazer uso de modulações, equivalências (especificamente nos casos de clichês, metáforas, frases idiomáticas, provérbios, máximas e ditos), decalques e empréstimos. Assim, os únicos procedimentos que ele não menciona são a tradução literal e a adaptação, porém é possível que esses procedimentos não tenham sido mencionados devido ao escopo “limitado” de seu dicionário – trata-se, afinal, de um dicionário de cognatos enganadores. O que interessa notar é que, diferente do que muitos candidatos possam pensar – ou ter ouvido falar –, a utilização de procedimentos que não a tradução literal não necessariamente leva a uma falta de fidedignidade ao texto fonte. Muito pelo contrário: como vimos, alguns procedimentos como a transposição e a modulação são muitas vezes obrigatórios devido à estrutura morfossintática do idioma alvo e outros se fazem necessários para transpor diferenças metalinguísticas. Isso é o que o único livro sobre tradução no Guia de Estudos do CACD diz, e é o que parece de fato informar os examinadores quando da correção da tradução e da versão.

Dou aqui alguns exemplos de procedimentos de tradução aceitos pela banca examinadora na Tradução A de 2012. Os exemplos são tirados de espelhos aos quais tive acesso após a correção da banca. Começando pela tradução direta, vejamos alguns exemplos de tradução literal:

Exemplo 1

Texto fonte: being snubbed and rebuffed in its quest for trade

Sugestão de tradução aceita: sendo esnobado e contrariado em sua busca por comércio

Exemplo 2

Texto fonte: not their goods, not their ideas, and definitely not their company

Sugestão de tradução aceita: nem seus produtos, nem suas ideias, e definitivamente nem sua companhia

Dentre os espelhos a que tive acesso, encontrei um caso de empréstimo aceito pela banca:

Exemplo 3

Texto fonte: premium Bengal-grown opium

Sugestão de tradução aceita: ópio “premium” plantado em Bengala

Não encontrei casos de decalque – nem aceitos, nem recusados-, mas isso provavelmente se deva ao texto fonte em si, o qual não parece, ao menos em primeira análise, trazer segmentos que pudessem ser objeto de tal procedimento.

Passando à tradução oblíqua, há diversos exemplos de transposição:

Exemplo 4

 Texto fonte: an inglorious episode

Sugestão de tradução aceita: um episódio inglório

 Exemplo 5

Texto fonte: the British gunboats arrived

Sugestão de tradução aceita: os barcos armados britânicos chegaram

Também temos diversos exemplos de modulação:

Exemplo 6

Texto fonte: there was nothing

Sugestão de tradução aceita: não havia nada

Exemplo 7

Texto fonte: a full 14 tonnes of the narcotic

Sugestão de tradução aceita: 14 toneladas completas do narcótico

Cito aqui também alguns exemplos de equivalências:

Exemplo 8

Texto fonte: the crown would make good their losses

Sugestão de tradução aceita: a coroa cobriria as suas perdas

Exemplo 9

Texto fonte: played their part

Sugestão de tradução aceita: fez o seu papel

Não encontrei casos de adaptação – nem aceitos, nem recusados -, mas isso também é provavelmente devido ao texto fonte.

Assim, concluímos que a tradução não precisa – e muitas vezes não deve – ser literal para ser considerada fidedigna. A opção consciente por outros procedimentos de tradução podem, inclusive, tornar o texto traduzido não só mais natural na língua alvo, mas também mais fidedigno ao texto fonte.

Cheers!

Observar com cuidado as palavras que são escolhidas pelo autor de um texto pode nos dar indicações do que o autor quer dizer – e consequentemente do que ele não quer dizer. Para isso, é preciso que o leitor perceba não só as ideias do texto, mas com que palavras e expressões o texto é escrito. Isso é essencial porque quando o leitor observa esse tipo de detalhe, ele consegue fazer inferências válidas.

Mas o que significa fazer inferências? Inferências são conclusões às quais chegamos com base no raciocínio, em fatos ou evidências. Boas inferências dependem de uma boa observação das palavras escolhidas pelo autor e podem ajudar a determinar o que o autor quer dizer, ainda que isso não esteja expresso no texto de forma clara. No post passado, quando falamos sobre a importância de identificar o ponto de vista adotado pelo autor, acabamos fazendo inferências: presumir como o autor gostaria de ser percebido – ou que tipo de relação ele pretende estabelecer entre o leitor e suas ideias – com base no ponto de vista adotado é fazer uma inferência válida.

Proponho o seguinte exercício, do livro “Reading Comprehension Success”, para que entendamos melhor a importância da escolha das palavras por parte do autor e como podemos fazer inferências a partir dessa escolha:

Test your observation skills on these two sentences:

A. The town’s new parking policy, which goes into effect on Monday, should significantly reduce traffic congestion on Main Street.

B. The town’s draconian new parking policy, which goes into effect on Monday, should significantly reduce traffic congestion on Main Street.

É óbvio que a única diferença entre as duas frases é a palavra “draconian” (=”extremely severe”). Mas o que o uso dessa palavra tão específica nos revela?

What does sentence B tell you that sentence A doesn’t?

a. what type of policy is being discussed

b. how the writer feels about the policy

c. when the policy begins

A resposta correta é a alternativa B. Ao escolher usar a palavra “draconian”, o autor sugere que é assim que ele se sente em relação a essa nova medida. Sua opinião, dessa forma, pode ser inferida por sua escolha de palavras (sua diction).

Agora imaginemos, como ainda propõe o mesmo livro, que a frase A tivesse um outro adjetivo:

The town’s firm new parking policy, which goes into effect on Monday, should significantly reduce traffic congestion on Main Street.

Agora as frases querem dizer a mesma coisa? Sim e não. Ambos “firm” e “draconian” querem dizer que a medida é severa, mas “draconian” sugere que ela é mais severa, e além disso injusta. Isso quer dizer que mesmo que duas palavras sejam sinônimas, elas podem ter níveis diferentes de significado, e isso se chama em inglês connotation. Se denotation é o significado da palavra como dado pelo dicionário, connotation é o significado implícito, um significado que tem um registro social ou emocional, ou ainda que sugere alguma noção de gradação. Assim, a escolha da palavra não revela apenas o que ela significa, mas possibilita fazer inferências sobre as intenções e os sentimentos do autor.

Cheers!

Até agora, nos posts sobre Reading Comprehension, lidamos com situações quase que ideiais nas quais as ideias e as intenções dos autores estavam claramente expressas no texto. Sabemos, entretanto, que nem sempre isso acontece – especialmente em se tratando de um exame com o nível de exigência do CACD. E então, o que podemos fazer para compreender o que o autor está dizendo em um texto?

Não importa quão críptico um texto possa parecer, o autor sempre deixa pistas para que o leitor consiga compreender o que ele quer dizer. Essas pistas podem ser linguísticas ou estilísticas, ou seja, elas podem estar nas palavras usadas pelo autor, ou no tipo de linguagem que o autor adota. Seguindo a sugestão do já mencionado livro “Reading Comprehension Success”,  há alguns elementos nesse sentido que merecem nossa atenção, exatamente por serem elementos que criam significado para o leitor: ponto de vista, escolha de palavras e tom. Neste post falaremos sobre ponto de vista.

Em primeiríssimo lugar é importante diferenciar o ponto de vista do autor de sua opinião. Já vimos que opinião é aquilo em que o autor acredita; por sua vez, o ponto de vista é uma estratégia que o autor adota para se comunicar com seus leitores. Por exemplo, ele pode adotar um ponto de vista subjetivo ou objetivo, ou ele pode se referir ao leitor diretamente como “você” ou anonimamente como “eles”. Ponto de vista, assim, está diretamente relacionado à ideia de perspectiva. Uma mesma situação pode ser descrita de várias formas, dependendo da perspectiva através da qual você a observa. É essencial identificar através de qual ponto de vista um autor aborda um tema e se o autor menciona em seu texto outras perspectivas, que não a dele mesmo.

Podemos identificar três diferentes abordagens ao falar de ponto de vista: um ponto de vista em primeira pessoa, que é individualizado e pessoal, e através do qual o autor fala de suas próprias experiências e sentimentos sobre algo usando os pronomes I, me, we, us etc.; um ponto de vista de segunda pessoa, também pessoal, por se dirigir diretamente ao leitor usando o pronome you; e o ponto de vista em terceira pessoa, que é impessoal e objetivo, apresentando a perspectiva de alguém que está de fora, ou seja, que não está envolvido na ação – os pronomes usados são he, she, they, it etc. É claro que a adoção de um ou outro ponto de vista depende se ele é apropriado para o tipo de texto que se escreve, mas ela também depende do efeito que se deseja causar no leitor.

A adoção de um ponto de vista em primeira pessoa, por exemplo, pode fazer com que o leitor perceba o autor como mais sincero –  e as ideias do texto como mais confiáveis – por criar uma certa intimidade entre leitor e autor. Já o ponto de vista em terceira pessoa pode ser adotado para passar uma ideia de maior objetividade – como se o autor não estivesse colocando ali nada de subjetivo seu. É claro que nesse tipo de perspectiva o autor ainda assim expressa opiniões, mas elas parecem mais objetivas. Por fim, a adoção de um ponto de vista em segunda pessoa é muito usada para destacar o leitor como um indivíduo – e não tratá-lo como uma categoria. Assim, o leitor pode vir a se sentir como parte das ideias expressadas no texto, pois essa perspectiva coloca o leitor diretamente na situação do texto.

Podemos perceber que, de fato, cada ponto de vista cria um certo efeito. Dependendo das intenções do autor, pode ser mais interessante aproximar o leitor do autor, ou ser mais objetivo, ou ainda envolver o leitor na sua argumentação. Entender qual é ponto de vista adotado pelo autor é entender que tipo de relação ele quer criar entre suas ideias e seus leitores.

Cheers!

Agora que já falamos sobre como entender o essencial em um texto, podemos dar atenção a algumas estratégias de leitura mais específicas. Nesse post falarei sobre compreender a estrutura do texto.

Comparemos, como faz o autor do livro “Reading Comprehension Success”, um autor a um arquiteto. Toda construção tem uma série de cômodos, mas a forma como esses cômodos são dispostos depende do arquiteto. Isso também vale para um texto: a forma como as ideias e as frases estão organizadas depende da intenção do autor. Há quatro padrões principais de organização de um texto: cronológico, por ordem de importância, por comparação e contraste, e por causa e efeito. É importante que, como leitores, consigamos reconhecer esses padrões, pois a escolha que o autor faz por um ou outro padrão organizacional também pode nos ajudar a inferir informações e intenções do autor.

Muitos textos são organizados de forma cronológica, ou seja, começando pelo primeiro evento e terminando com o último evento. É possível perceber essa organização em um texto tanto pela sequência dos eventos quanto pelas transitional words and phrases que são usadas entre um evento e outro (first, second, then, afterward etc.) e os conecta de forma cronológica.

Uma outra forma de organizar o texto é por ordem de importância. As ideias são aqui organizadas de forma hierarquizada, indo da menos importante para a mais importante, ou vice-versa. Ambas as estruturas são muito comuns, porém alguns autores preferem terminar o texto com a ideia mais importante para criar um “snowball effect”, isto é, criar uma força argumentativa crescente em seu texto. Assim como uma bola de neve, a ideia do autor vai ficando cada vez maior – e mais importante – e isso gera no leitor uma expectativa pela ideia final. Nesse caso, transitional words and phrases também são usadas (first and foremost, also, furthermore, in addition, most importantly etc.).

Também é possível organizar a estrutura de um texto por meio de comparação e contraste. A comparação e o contraste são geralmente usados para destacar as semelhanças e as diferenças entre ideias. Há diversas transitional words and phrases que nos ajudam a identificar as semelhanças: similarly, likewise, like, just as, in the same way etc; há outras que nos permitem identificar o contraste, a diferença: but, on the other hand, however, conversely, yet, on the contrary, nevertheless etc. A comparação e o contraste podem ser feitos pelo point-by-point method (cada aspecto de uma ideia A é comparado ou contrastado com um aspecto da ideia B)  ou pelo block method (o autor lida primeiro com todos os aspectos de uma ideia e depois com todos os da segunda ideia). É importante notar que duas ou mais ideias são comparadas ou contrastadas em um texto por algum motivo, o qual geralmente é a ideia central do texto.

Finalmente, alguns textos são organizados pelo estabelecimento de relações de causa e efeito. Entender no texto o que é causa e o que é efeito é essencial para uma boa compreensão de leitura. Causa é alguém ou algo que faz algo acontecer ou produz um efeito; efeito é uma mudança produzida por uma ação ou causa. Também nesse caso há transitional words and phrases que nos ajudam a identificar tanto a causa (because, since, due to etc.) quanto o efeito (so, hence, therefore, consequently, as a result etc.). Vale lembrar que uma causa pode ter vários efeitos, assim como um efeito pode ter várias causas em um texto. E também não podemos nos esquecer de que causas e efeitos podem ser apenas a opinião do autor – não são necessariamente fatos.

Cheers!

Continuando o post sobre como entender o essencial de uma passagem escrita e assim melhorar sua compreensão de leitura, neste post falarei sobre duas outras estratégias que podem ser usadas para compreender o essencial de um texto.

Em situações em que estamos lendo algum material e não podemos consultar um dicionário, é importante usar o contexto para procurar determinar o significado das palavras e expressões desconhecidas. A habilidade de determinar o significado de palavras desconhecidas a partir do contexto é essencial para a compreensão de leitura – entretanto, como qualquer habilidade, ela precisa ser desenvolvida.

A primeira dica nesse sentido é não ler o texto inicialmente já com foco nas palavras desconhecidas. Coloque foco naquilo que você conhece, pois só assim você entenderá o contexto que, por sua vez, te ajudará a entender as palavras desconhecidas. Em segundo lugar, procure entender qual é a categoria sintática daquelas palavras que você desconhece: trata-se de um adjetivo, um verbo, um substantivo? A que outras palavras ela está sintaticamente relacionada? Esse tipo de questionamento certamente ajuda a eliminar algumas hipóteses de significado. Em terceiro lugar, verifique se a palavra possui algum prefixo ou sufixo que possa dar alguma indicação do que ela significa. Finalmente – e talvez a dica mais importante – só foque em palavras desconhecidas se elas forem realmente relevantes para o teste, ou seja, se houver alguma pergunta de compreensão de leitura que passa pela compreensão dessas palavras, ou se houver alguma pergunta de vocabulário que esteja associada a elas.

A quarta e última estratégia é diferenciar fatos de opiniões no texto. Muitos textos, inclusive no exame, trazem uma mistura de fatos com opiniões do autor. Para que possamos ler o texto de forma crítica – e essa é uma habilidade testada pelo exame – é preciso perceber a diferença entre o que está no texto como opinião e como fato.

A grande diferença entre opinião e fato, em um texto, está naquilo que o autor diz que acredita e aquilo que o autor diz que sabe, respectivamente. As opiniões podem estar baseadas em fatos, mas elas ainda assim são coisas nas quais o autor acredita, não que ele sabe. As opiniões são discutíveis, os fatos, não. Em um texto, geralmente, a ideia principal é a opinião de um autor, a qual é fundamentada em uma base de fatos que ele elenca. Uma boa forma de se certificar se algo que está no texto é opinião ou fato é perguntar-se: essa frase é discutível? Isso é conhecidamente verdade? Se a resposta para a primeira pergunta é sim, trata-se de uma opinião; se a resposta para a segunda é sim, trata-se de um fato – tudo isso, é claro, na forma como o autor apresenta as informações.

A habilidade de distinguir fato de opinião é essencial, pois ela permite perceber quais são as evidências nas quais um autor fundamenta suas opiniões – o que, por sua vez, permite que um leitor crítico julgue por si mesmo a validade dessas opiniões.

Para melhorar suas habilidades de identificar as informações essenciais no texto, identificar a ideia principal do texto, determinar o significado de palavras desconhecidas pelo contexto e diferenciar fatos de opiniões, faça os exercícios propostos no livro “Reading Comprehension Success” (páginas 19 – 50).

Cheers!