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Questão 38. Decide whether the following statements, concerning the grammatical and semantic aspects of text III, are right (C) or wring (E).

1. Both the author of the book itself and the reviewer agree that African countries should not have had their independence determined by outside forces.

ERRADO. O autor do texto relata o argumento do autor do livro, mas não se posiciona favoravelmente quanto a isso: “here, the argument becomes outright theological: The sovereignty accorded by outside actors represents the ‘original sin’ of African statehood”.

2. Most publications tend to propose explanations for the situation of African and Asian countries in a generalised form.

ERRADO. O autor do texto afirma que “current writing about Africa is characterised, firstly, by a remarkable tendency to generalise about the entire continent, which no author specialising in Asia, for example, would dare contemplate“.

3. If “yardstick” (l.2) is replaced by criterion in the text, it would be necessary to change the preposition following it–“of”–in order to maintain grammatical accuracy.

ERRADO. Yardstick, nesse contexto, quer dizer “a standard for judging how good or successful something is”. Nesse sentido, é sinônimo de criterion. Entretanto, a preposição não precisaria ser alterada se houvesse substituição. Criterion tem collocation com a preposição for quando aquilo que complementa essa preposição diz respeito à finalidade do critério (ou seja, o que o critério pretende avaliar, e não a qual é o critério em si). Por exemplo:

What criteria are used for assessing a student’s ability?

a universal set of criteria for diagnosing patients

the criteria for measuring how good schools are 

No texto, “a single historical factor” não é o que o critério pretende avaliar, mas sim o próprio critério: segundo o autor do texto, Englebert argumenta que haveria um fator histórico único (a descolonização) capaz de explicar a situação dos países africanos em geral. Esse é o critério de Englebert, e a prepositional phrase “of a single historical factor” é utilizada justamente para introduzir qual é o critério.

4. The author of the review blames the problems of Englebert’s book mostly on his search for a single answer for the issues concerning African countries.

ERRADO. O autor afirma que “Englebert’s book suffers from four tendencies, the first two of which involve a dominant mode in current writing about Africa, and the third and fourth of which reflect the constraints of academic publishing, particularly in the United States of America”. Dessas quatro tendências mencionadas, apenas a segunda corresponde ao que está escrito no item: “this tendency is associated, secondly, with an intensive search for a single factor that would explain the plight of Africa […].”. O fato de que os comentários do autor sobre as outras duas tendências não constam do trecho apresentado para a interpretação não impede a identificação de que, para o autor, o livro de Englebert é marcado por quatro tendências, mas apenas uma delas – a qual em nenhum momento é comparada às outras – corresponde à tentativa de encontrar uma explicação única para explicar os problemas dos países africanos.

Questão 39. The statements below are about the ideas of text III and the vocabulary used in it. Decide whether those statements are right (C) or wrong (E).

1. The author of the review understands the problems of the African continent as a more complex issue.

CERTO. O autor afirma que “he [Englebert] is not concerned with the identification of contingent factors which, through their myriad combinations and mutual (correlated) causal processes, have led to the emergence of the current complex situation on the African continent”.

2. The word “myriad” (l. 21) is synonymous with intricate.

ERRADO. Myriad e intricate não têm o mesmo sentido.

3; Englebert’s experience in the eastern Congo is paradigmatic for the elaboration of his thesis.

CERTO. O autor afirma que “current writing about Africa is characterised, firstly, by a remarkable tendency to generalise about the entire continent […]. This usually involves the extrapolation of a single empirical situation to the entire continent. In Englebert’s case, this clearly relates to his experience in the eastern Congo, which is made to serve as an example for all of sub-Saharan Africa”. Paradigm tem o sentido de “a typical example of pattern of something”. Veja também o sentido e os sinônimos de paradigmatic.

4. The noun “constraints” (l.6) could be correctly replaced by limitations.

Novamente, a dificuldade aqui é determinar o que o examinador pretende avaliar ao perguntar se uma palavra pode substituir a outra (veja a discussão nos comentários sobre a Questão 42). No contexto, constraint quer dizer “something that limits one’s freedom of action or choice”. Nesse sentido, contraint pode ser considerado sinônimo de limitation (mas não encontrei a sinonímia no Random House Roget’s Thesaurus).

Entretanto, para substituir uma palavra por outra, é preciso também levar em conta se o texto ficaria idiomático e se seu sentido seria mantido. Uma simples busca no Google das expressões “constraints of academic publishing” e “limitations of academic publishing” mostra que a primeira expressão é infinitamente mais comum que a segunda. Além disso, me parece que pode haver, sim, alguma diferença de sentido entre as duas expressões. Compare estes dois exemplos:

a. “the perennial constraints of academic publishing, namely space, deadlines and teaching commitments

b. “The book represents a small contribution to knowledge, and as such is nothing to be sneezed at. But it also embodies the limitations of academic publishing and even of academia itself. The high cost, the lack of promotion and the incredibly long production process, all distance the book from anyone but a small number of experts

É claro que esses são apenas dois exemplos, e pode ser que essas expressões sejam usadas com o mesmo sentido, ou ainda com outros sentidos (veja aqui o texto completo de T. Bierschenk), mas só a dificuldade que a formulação do item causa para determinar o que, afinal, está sendo testado (apenas a sinonímia ou também naturalidade e possíveis diferenças de sentido) já me parece motivo suficiente para deixar a questão em branco – e mesmo para solicitar a anulação da questão.

Cheers!

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Sigo comentando as questões!

Questão 40. Considering the content of text IV, decide whether the following statements are right (C) or wrong (E).

1. US educational and cultural exchange programs have been in place for over sixty years.

ERRADO. O texto afirma que “the United States, for example, has conducted educational and cultural exchange programs for almost sixty years”.

2. The US information programs abroad started operating due to an ambassador’s complaint.

CERTO. Consta do texto que “the daily Washington File (formerly the Wireless File) began operation in the State Department in 1935 after an ambassador complained that the slow distribution of official information was ‘about as useful as a Roman ruin in a fast-changing world’”.

Due to passa uma ideia de causalidade, que talvez não seja uma ideia que relacionemos imediatamente aos sentidos de after, mas note que after, nesse contexto, tem o sentido de “because of something that happened earlier” (veja aqui).

3. The basic instruments of public diplomacy have practically remained the same.

CERTO. Consta do texto que “the basic instruments of public diplomacy are hardly new”. Ainda que o texto destaque que há mais integração hoje em dia, isso não contradiz a assertiva.

4. Public diplomacy programs still remain disconnected across government agencies.

ERRADO. O texto não diz que esses programas eram disconnected (atenção para o sentido do termo aqui, aqui e aqui) antes mesmo das mudanças, então “remain disconnected” não está correto. Se a ideia foi contrapor disconnectedintegrated (mas note que não são considerados antônimos nem pelo Merriam-Webster’s Online Thesaurus nem pelo Random House Roget’s Thesaurus), a assertiva continua errada, já que o autor afirma que “in recent months, the biggest internal change, of course, has been integration. Public diplomacy programs, once administered by the US Information Agency, are now integrated into the Department of State under the Under Secretary for Public Diplomacy and Public Affairs“. O texto ainda afirma que “public diplomacy officers serve in each of the Department’s regional and functional bureaus and in public affairs sections of the embassy”.

Questão 41. Decide whether the statements below are right (C) or wrong (E) according to the ideas and information of text IV.

1. Integration is bigger than any other internal change.

Difícil determinar se o item está certo ou errado. No texto, o autor afirma que “in recent months, the biggest internal change, of course, has been integration”. O autor destaca que isso é algo recente e com efeitos no presente, tanto pelo uso de “in recent months” quanto pelo uso do Present Perfect. A assertiva parece, ao menos incialmente, ser uma paráfrase do texto, só que sem “in recent months” e no Present Simple. É claro que o Present Perfect é um tempo que fala sobre o presente (no sentido de que, hoje, assim como nos últimos meses, a maior mudança interna é integração), mas é preciso considerar que o Present Simple não é usado só para expressar ações/estados no presente (como em This plant needs water), mas também para expressar verdades universais (como em Plants need water). O que me parece difícil de determinar é se a assertiva está falando de algo que é verdade no presente (o que estaria certo) ou de uma verdade universal (o que estaria errado).

2. Public diplomacy programs have long been integrated into the Department of State.

ERRADO. Consta do texto que “Public diplomacy programs, once administered by the US Information Agency, are now integrated into the Department of State […]”.

3. Public diplomacy officers serve either in the Department’s regional and functional bureaus or in public affairs sections of the embassy.

ERRADO. O texto afirma que “public diplomacy officers serve in each of the Department’s regional and functional bureaus and in public affairs sections of the embassy”.

4. The flow of information has been slowing its pace for years.

ERRADO. O texto afirma que “the flow of information since has neither slowed nor stopped changing”.

Questão 42. In text IV the expression “deferred gratification” (l. 5) could be replaced, without changing of meaning, by (decide whether the items below are right – C – or wrong – E):

1. Expected gratification.

2. Generous expectation.

3. Paid-off expectation.

4. Put-off gratification.

Se pensarmos estritamente nos sentidos de cada palavra, o item 4 parece ser o único correto, já que deferput off são sinônimos – e gratification  não tem o mesmo sentido de expectation. Minha única preocupação é que a questão pede para o candidato identificar se as expressões nos itens poderiam substituir deferred gratification no texto, mas deferred gratification é, mais que uma expressão fixa, um conceito da sociologia (veja aqui e aqui). Encontrei algumas referências ao conceito como delayed gratification, mas nenhuma como “put-off gratification”. Na verdade, “put-off gratification” não parece nem ser uma collocation frequente na língua inglesa (há diversas ocorrências de deferred gratification e de delayed gratification no Corpus of Contemporary American English, mas absolutamente nenhuma de “put-off gratification”). Assim, acredito que substituir “deferred gratification” por “put-off gratification” não manteria o sentido do texto, até porque não seria idiomático. O que é difícil dizer é se isso importa para o TPS como importa para a prova de inglês da terceira fase (digo isso porque é comum, nas respostas aos recursos interpostos depois da terceira fase, o examinador escrever coisas como “a combinação de ‘xxx’ com ‘yyy’ fere as leis de colocação e, portanto, de idiomaticidade na língua inglesa; não é uma possibilidade no repertório da norma culta”).

A pergunta me fez lembrar de uma pergunta do CACD 2010, comentada no Manual do Candidato de 2013.  O texto dizia:

“I went to hear Pik Botha, the foreign minister, a Hitlerian figure with a narrow moustache, an imposing bulk and a posse of security men.”

A assertiva dizia:

“posse” (l.2) and entourage are interchangeable.

Apesar de, gramaticalmente, “a posse” não poder ser substituído por “a entourage”, a resposta que a banca esperava era CERTO. Segue o comentário do Manual do Candidato (p. 47): “despite the structural impossibility of replacing a posse with a entourage, this answer was considered correct. The answer caused surprise, by apparently ignoring a grammatical issue in favour of a purely semantic choice. The answer was maintained against appeal. However, in the ‘x can be replaced by y’ or ‘x is interchangeable with y’ type of question, you would normally be well advised to check that a replacement word fits the grammatical context as well as the meaning of the text. If in doubt, you might leave a dubious option of this kind blank”. Acho o conselho mais que pertinente no nosso caso também.

Cheers!

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Conforme tenho feito nos últimos anos, publicarei uma série de posts com comentários sobre a prova de inglês do TPS 2016. É importante lembrar que essas são minhas primeiras impressões sobre a prova e que elas podem mudar caso alunos e/ou leitores me chamem a atenção para informações que podem ter passado despercebidas – por isso, fique à vontade para comentar e contribuir! 🙂 É possível que eu adicione comentários aos posts nos próximos dias, principalmente após a publicação do gabarito preliminar e do gabarito definitivo.

Inicio os comentários sobre a prova de inglês do TPS 2016 pelo Text V.

Questão 43. Based on Text V, decide whether the statements below are right (C) or wrong (E).

1. There has never been any conflict between members of WTO.

ERRADO. Consta do texto que “most trade between friendly nations, particularly those who operate within the multilaterally agreed rules of the World Trade Organisation (WTO) and other relevant international agreements, proceeds smoothly. However, disputes do arise […]”. Leia mais sobre o emphatic do.

Note, entretanto, que há um erro na assertiva, na qual deveria estar escrito members of the WTO. Atente para o uso do artigo definido antes de abreviações e acrônimos.

2. Trade disputes can be categorized into at least three facets.

CERTO. O autor do texto diz: “however, disputes do arise, and they fall into three main categories […]”.

3. Friendly nations are those ones which belong to WTO.

ERRADO. O texto diz que “most trade between friendly nations, particularly those who operate within the multilaterally agreed rules of the World Trade Organisation (WTO) and other relevant international agreements, proceeds smoothly”. Particularly quer dizer “especialmente”, o que não restringe o sentido de “friendly nations” (particularly apenas destaca, dentro de um conjunto maior de “friendly nations”, o grupo de países citado após o advérbio). Além disso, o autor do texto não destaca apenas os países da OMC (aliás, mesmo dentre esses países, o autor destaca apenas os que operam de acordo com “the multilaterally agreed rules of the World Trade Organisation”, e pode haver alguma diferença entre esses dois conjuntos de países), mas também aqueles que “operate within […] other relevant international agreements”.

Note que há, novamente, um erro na assertiva, na qual deveria estar escrito belong to the WTO. Atente para o uso do artigo definido antes de abreviações e acrônimos.

4. The majority of international trade is carried out free of difficulties.

ERRADO. Não se trata de “the majority of international trade”: o texto afirma que “most trade between friendly nations, particularly those who operate within the multilaterally agreed rules of the World Trade Organisation (WTO) and other relevant international agreements, proceeds smoothly“. A assertiva generaliza algo que está restrito no texto, já que o texto não diz nada sobre o comércio realizado entre países que não são “friendly nations”.

Alguém poderia questionar se países que não são “friendly nations” têm relações comerciais, pensando em uma interpretação com informações exteriores ao texto. Entretanto, em International Economics, Robert Carbaugh afirma que “a nation may punish unfriendly nations with high import tariffs on their goods and reward friendly nations with low tariffs. […] As of 2014, the United States did not grant normal trade relations status to Cuba and North Korea. U.S. tariffs on imports from these countries are often three or four (or more) times as high as those on comparable imports from nations receiving MFN status […]”.

Questão 44. Decide whether the following statements are right (C) or wrong (E) according to text V.

1. Disputes on international issues neither demand the intervention of diplomats nor of technical experts.

ERRADO. Primeiramente, está errado porque o texto trata, especificamente, de trade disputes, mas a assertiva fala de “disputes on international issues” em geral. Além disso, o texto diz que “all such disputes require diplomatic intervention, sometimes by generalist diplomats, but most often by technical trade specialists”.

Note, entretanto, que há aqui um problema de paralelismo na formulação da assertiva, que poderia ser reescrita da seguinte forma: “disputes on international issues demand the intervention neither of diplomats nor of technical experts“.

William Strunk Jr., no consagrado The Elements of Style, explica que “this principle, that of parallel construction, requires that expressions of similar content and function should be outwardly similar. The likeness of form enables the reader to recognize more readily the likeness of content and function”. Ele chama atenção especial para a necessidade de paralelismo quando correlative conjunctions (como neither… nor…) são usadas: “correlative expressions (both, and; not, but; not only, but also; either, or; first, second, third; and the like) should be followed by the same grammatical construction. Many violations of this rule can be corrected by rearranging the sentence”. Seguem alguns exemplos do livro:

Sem paralelismo

Com paralelismo

It was both a long ceremony and very tedious.

The ceremony was both long and tedious.

A time not for words, but action.

A time not for words, but for action.

Either you must grant his request or incur his ill will.

You must either grant his request or incur his ill will.

My objections are, first, the injustice of the measure; second, that it is unconstitutional.

My objections are, first, that the measure is unjust; second, that it is unconstitutional.

2. Never before has there been a dispute between the US Government and BP.

ERRADO. O autor diz que “sometime ago, the most visible trade-related dispute was that between the United States Government and BP over the disastrous Macondo oil leak in the Gulf of Mexico”.

Alguém poderia questionar se a assertiva não faz referência a alguma controvérsia anterior à controvérsia relacionada ao Golfo do México. Se esse fosse o caso, o Present Perfect (“Never before has there been“) não deveria ser usado. E, de qualquer forma, não há informações no texto que permitam dizer que não houve outra controvérsia – “this is not a typical case” indica que o caso é atípico, não que o caso não tem precedentes.

3. The main company involved in the Macondo accident is, just by chance, based in UK.

CERTO. O texto afirma que “the principal company involved happens to be UK-based“.

Note que há outro erro aqui: a assertiva deveria ser “based in the UK“. Atente para o uso do artigo definido antes de abreviações e acrônimos.

4. Intergovernmental differences of substance are not involved in the case.

CERTO. O texto diz que “no intergovernmental differences of substance are at stake–the British Government became involved only indirectly […]”.

Cheers!

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Não é raro ouvir ou ler comentários de CACDistas sobre como as tarefas de tradução da prova de inglês, na terceira fase, se resumem a uma questão de sorte: ou você tem a sorte de abrir a prova e encontrar um texto recheado de palavras que você conhece, ou não. Essa percepção com alguma frequência serve como justificativa para que uma porção muito pequena – quando não inexistente – do planejamento de estudos de língua inglesa para o concurso seja dedicada a essas tarefas.

É claro que contar com a sorte é algo mais que desejável nessas (e em todas outras!) tarefas, visto que os textos selecionados costumam ser bem complexos e que não é permitido o acesso a nenhum apoio externo. Isso, entretanto, não significa que tradução é sorte e que não há nada que se possa fazer em termos de preparação para essas tarefas. Muito pelo contrário. Neste post, discutirei a importância de dedicar tempo à tradução na preparação para o concurso.

Traduz melhor quem conhece mais palavras.

Um texto não é um aglomerado de palavras meramente justapostas – se fosse, talvez conhecer palavras fosse suficiente para o ato tradutório. Em um texto, as palavras se relacionam de várias formas, em termos tanto semânticos, quanto morfossintáticos, culturais, ideológicos etc. Não traduz melhor quem conhece mais palavras; a tradução depende de vários fatores, como compreender essas relações estabelecidas no texto fonte e ter competência linguística no idioma de chegada. Isso sem contar a discussão sobre o que significa “conhecer uma palavra”, já que uma palavra pode ser polissêmica e ter sentidos que desconheço, ou ela pode ser usada em uma expressão fixa que eu não compreendo, ou, ainda, ela pode ser conhecida apenas “passivamente” (eu entendo seu sentido quando a ouço ou a leio), mas não “ativamente” (eu não sei como usá-la ao falar ou escrever). E daí também a necessidade de se compreender que dicionários bilíngues têm escopo limitado: os verbetes correspondem a palavras e locuções, mas as traduções sugeridas não compreendem todas as possibilidades de contextos nos quais certa palavra ou locução poderia ocorrer (e a tradução depende essencialmente do contexto, já que é nele que estão estabelecidas as relações entre as palavras).

Mas eu falo bem português e inglês…

Ter bons conhecimentos de dois idiomas não significa ser capaz de traduzir de um idioma para o outro. Tenho poucos colegas tradutores que se dedicam a mais de um par linguístico; muitos deles têm excelentes conhecimentos de língua portuguesa e de língua inglesa (e, em alguns casos, de mais idiomas) e, ainda assim, optam por trabalhar ou apenas com tradução de inglês ou apenas com versões para o inglês (sem mencionar que a imensa maioria deles restringe a área de atuação: traduções literárias, área jurídica, tecnologia da informação etc.). Traduzir envolve uma série de conhecimentos, reflexões e decisões que não costumam fazer parte dos processos envolvidos na comunicação em um idioma estrangeiro. Além disso, se pensarmos a tradução como uma habilidade, é preciso praticá-la, e muito, para produzir um resultado satisfatório. Se me permite a comparação, é um pouco como tocar um instrumento musical: eu estudei em conservatório por algum tempo, li algumas obras sobre teoria musical e musicologia e tenho boa percepção musical, mas, como não tive a disciplina de “praticar até a perfeição”, não há muita coisa que eu saiba fazer quando estou na frente de um piano.

Importante mesmo é treinar para a redação!

A redação é, de fato, a tarefa mais importante da prova de inglês da terceira fase, já que só essa tarefa vale 50 pontos em uma prova que vale, no total, 100 pontos. No entanto, isso não quer dizer que os 35 pontos que correspondem às tarefas de tradução possam ser deixados a cargo da sorte. Sabemos que a aprovação no concurso acaba sendo decidida, muitas vezes, por apenas um ponto (quando não por décimos). Além disso, a banca costuma ser composta por professores da área de tradução (como Ofal Fialho e Mark David Ridd, em 2015), o que não garante que não aconteçam problemas nas correções das tarefas, mas ao menos pode ser considerado um indício da importância dessas tarefas na prova – e talvez da importância da tradução de forma mais ampla, como argumentarei a seguir.

Eu quero ser diplomata, não tradutor.

Translation is not the preserve of translators. Há tantas instâncias de nossa vida, pessoal e professional, em que a tradução se faz presente, e muitas vezes de forma inconsciente. E algo que é crucial destacar para os propósitos deste post é que aprender a traduzir de forma consciente e crítica pode ajudar a melhorar a competência em inglês de forma geral.

Vou me deter um pouco nesse argumento, inclusive fazendo referência a um excelente artigo escrito por Mark David Ridd e Maria Carolina Calvo Capilla. Existe algum consenso, entre estudiosos, de que a aprendizagem de uma língua estrangeira (LE) passa pelo filtro de nossa língua materna (L1): com base na L1, elaboramos hipóteses para a aquisição da LE. Nesse processo, podemos identificar transferências e interferências; o conhecimento prévio da L1 pode ser corretamente aplicado na LE, o que auxilia a aquisição da LE (transferência), mas esse conhecimento pode não ser aplicável à LE, o que resulta em erros (interferência).

Muitas vezes, os erros ocasionados por interferências não impedem a comunicação (quem nunca perguntou para o professor de inglês se aquele errinho de preposição realmente impediria que o falante nativo compreendesse sua mensagem?). Assim, ou por falta de necessidade comunicativa de melhorar a competência no idioma, ou por simples falta de percepção da existência das interferências e dos erros, muitos estudantes de LE acabam não conseguindo chegar ao nível de proficiência na LE, atingindo um plateau e ali ficando estacionados em seu processo de aprendizagem. O estudante nessa situação fala uma espécie de interlíngua – no nosso caso, um tipo de “portuglês” – que poder dar conta de diversas situações comunicativas, mas certamente não passa perto do que exames de proficiência e a própria prova de inglês do CACD exigem. E o problema fica pior quando, por não serem corrigidos, esses erros de interferência acabam sendo repetidos e finalmente fossilizados.

Se a L1 é o modelo que inicialmente adotamos quando da aquisição de uma LE, faz muito sentido que esses dois idiomas sejam conscientemente e criticamente contrastados, já que isso pode ajudar a incentivar transferências e a evitar interferências. E o que é a tradução se não uma atividade de confrontação explícita e reflexiva de um par linguístico? Hoje em dia, são muitos os estudiosos, como o próprio Mark David Ridd, que acreditam que a tradução deve ser usada, em cursos de idiomas que têm como base métodos comunicativos, como forma de conscientização das relações em L1 e LE no processo de aprendizagem com o objetivo de facilitar a aprendizagem por transferências, diminuir a ocorrência de interferências, evitar a fossilização de erros e, em última instância, possibilitar que um número maior de estudantes atinja a tão almejada proficiência na LE.

Ok, então se eu entendi direito…

Treinar para as tarefas de tradução é essencial para o CACDista porque não basta comunicar-se bem em português e inglês bem para traduzir bem. Em um concurso em que qualquer meio ponto pode significar ou a posse ou pelo menos mais um ano de estudos, todas as tarefas da prova de inglês são importantes. Além disso, ao treinar para as tarefas de tradução, você perceberá que alguns de seus erros em outras tarefas, como na redação, estão relacionados a interferências da língua portuguesa, e essa consciência crítica é essencial para que você aprimore sua competência em inglês em todas as tarefas da prova de inglês – e, possivelmente, isso terá efeitos positivos no processo de aprendizagem de outras línguas estrangeiras e em contextos de uso desses idiomas que vão muito além do CACD.

No próximo post, discutirei algumas formas de estudar tradução.

Cheers!

Dear readers,

Primeiramente, happy new year! Que este seja um ano de muitas conquistas para todos!

Retomamos as atividades aqui no blog com um relato escrito por Riane Tarnovski, aprovada no CACD 2015. Espero que suas dicas de estudo sejam úteis e que os motivem para um ano de estudos, foco e determinação!

Cheers!

                “Olá! Foi-me solicitado um relato de minha preparação para passar no CACD, e aqui segue uma breve explanação de meus estudos. Iniciei a jornada no segundo semestre de 2011, um pouco antes de me formar na graduação, o que totaliza 4 anos e meio de estudos. É imprescindível esclarecer que toda a minha preparação foi em Florianópolis/SC, longe dos “grandes centros” de cursinhos (Bsb, RJ e SP), o que traz uma dificuldade adicional em termos de bons cursos e professores direcionados para o concurso. Os primeiros dois anos foram apenas de estudos: curso regular e avançado no Clio, estudo de línguas com professores particulares de espanhol, francês (depois de cursos intensivos na Aliança Francesa) e inglês. Fiz curso de redação de português e inglês no Clio, o que pode ser bom para quem é iniciante, mas deixa muito a desejar para quem quer passar efetivamente. No início (2011-2012), queria abraçar o mundo e fazer absolutamente tudo que o cursinho dizia: estudava de 10-12h por dia e lia absolutamente TUDO que era passado. Erro. Pragmatismo é a alma do negócio. Até vale a pena ler algumas obras completas, mas apenas algumas. Para mim, o mais importante era compilar e sistematizar o que era lido para uma futura revisão; caso contrário, o conteúdo irá esvair-se na miríade de assuntos que temos de estudar para a prova.

Comecei a trabalhar em junho/2013 no Tribunal de Justiça de SC, um concurso que passei graças aos estudos do CACD mesmo. De lá pra cá, o estudo tornou-se muito pragmático e focado. Já estava na fase de aprofundamento e de “aparar arestas”. E que arestas são essas? São os autodiagnósticos que fazemos após o concurso de cada ano: o desempenho deixou a desejar em qual(ais) disciplina(s)? Então essas merecem maior atenção no ano seguinte, tendo em mente que línguas e PI são de estudo constante.

Montei cadernos digitais (no Word mesmo) de cada uma das disciplinas e fui atualizando ao longo desses 4 anos e meio. Notícias e dados importantes de PI saíam dos jornais e iam direto para o caderno. Lembre-se de que você precisa lembrar daquilo que leu na hora da prova, por isso a revisão é sempre tão importante. Com os anos, foram surgindo cursinhos online MUITO bons, como Sapientia, IDEG, Espaço Zeitgeist e Ciclo EAD. Como em qualquer cursinho, alguns professores se destacam mais que outros. Mas pelo menos era possível escolher a matéria (e o prof.) de cada um. Os cursos de exercícios sempre me foram muito caros, pois me forçavam a fazer revisões periódicas. E, como repetirei mais à frente, REVISÃO É ESSENCIAL.

Em todos os anos de preparação, fui melhorando minha pontuação. Sei que não são todos os candidatos que são assim, mas funcionou comigo, o que me motivava muito. Em 2014, concorria com apenas 17 vagas e, no resultado final, fiquei na 33ª colocação. Analisei minha pontuação com as dos aprovados e percebi que a deficiência estava na prova de Inglês da 3ª fase, assim como eu poderia melhorar em PI-GEO. No interregno entre o CACD 2014 e o CACD 2015, foquei as energias em línguas e PI (sinceramente, pode cair qualquer coisa em GEO!). Esse foi o momento em que meu estudo de 3ª fase para inglês foi revolucionado. Em Florianópolis, simplesmente NÃO EXISTE professor de inglês para a 3ª fase do concurso, então tive de buscar auxílio online. Foi quando me indicaram a profa. Selene Candian. Ela tem uma correção meticulosa e detalhista, e mais: além da correção, ela apresenta sugestões de melhoria e de substituição. Recomendo-a, juntamente com a correção via Skype, que reforça a correção e cria uma espécie de revisão de cada simulado.

Uma última dica valiosa na minha preparação que me ajudou a sempre melhorar as notas ao longo dos anos é TREINO. Com disciplina e treino, é questão de tempo até passar. Treinar e simular TODAS AS FASES é imprescindível! Somente com treino é que se consegue a serenidade e a confiança de que se terminará a prova no tempo aprazado. Claro que o CACD mede conhecimento e inteligência, mas sem treino para a prova não se passa. A parte da manhã da 1ª fase parece uma maratona, assim como a prova de inglês de 3ª fase (que não dá tempo de fazer quase nenhum rascunho) e as de francês e espanhol! Por isso é tão importante simular a situação real de prova: coloque-se em um ambiente silencioso, com uma garrafa de água, canetas pretas com tubos transparentes, lanche saudável e CRONOMETRE. De nada adianta se você não cronometrar.

O meu estudo para a 2ª fase iniciou-se junto com o da 1ª fase. Como tudo na vida, é questão de treino e costume: acostumar-se a escrever de forma bem objetiva e sem metáforas. De repente, existe muita linguagem metafórica da qual não tínhamos nos dado conta! Nada que treino e um bom professor de Língua Portuguesa não resolvam. No meu caso, encontrei a melhor professora pra mim (tanto para a 1ª quanto para a 2ª fase): Claudia Simionato. Eu busquei, busquei, busquei… tive aula com muitos professores (online e presencial), e simplesmente não encontrei ninguém à altura dela. Sei que a sintonia aluno-professor também conta muito, talvez por isso aprecio tanto a aula dela, mas a Simionato tem um diferencial universal: ela realmente conhece a prova e a correção da banca a fundo. Isso transmite confiança para que o candidato escreva sem medo de que será penalizado.

Muitas pessoas já iniciam o estudo de 3ª fase antes mesmo de passar na 1ª. Com exceção de línguas (inglês, francês e espanhol), não acho que isso seja imprescindível. Eu só estudei especificamente para a 3ª fase depois de passar na 1ª (com exceção de línguas), até porque a quase totalidade do assunto já havia sido explorada para a 1ª fase. Estou insistindo muito na prova de línguas porque, desde 2011, com número de vagas reduzido, elas têm-se tornado fundamentais para a aprovação. Além disso, uma disciplina em que, normalmente, os candidatos não tiram nota alta na 3ª fase é História do Brasil. E, assim como fiz jus aos trabalhos da Simionato e da Selene Candian, preciso exaltar o trabalho incrivelmente fenomenal do João Daniel. Você, candidato de longe dos “grandes centros”, não deixe de aproximar-se desse professor incrível, nem que seja online. Este foi meu caso, por exemplo. Ainda não o conheço pessoalmente, mas admiro-o como grande mestre que foi e é. Ele acreditou em mim e no meu potencial. Ele leu minhas respostas meticulosamente e chamou-me a atenção – inúmeras vezes – para meus erros mais frequentes. Sem contar que assistir a uma aula dele é tão prazeroso quanto ir ao cinema!

Caros, espero ter ajudado de alguma forma. Boa sorte para quem inicia e para quem está nesse caminho. Ele pode ser longo, mas certamente será cheio de boas surpresas e de pessoas maravilhosas.”

2015.11.13.crisis.pptxSource: Oxford Collocations Dictionary

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2015.11.23.sovereign.debt.crises

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2015.11.10.womens.empowerment

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2015.11.06.argument

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Após a divulgação do gabarito preliminar do TPS 2015, interpus alguns recursos na categoria discordância do gabarito, os quais divulgo abaixo. Não houve deferimento em nenhum dos casos, mas divulgo o texto dos recursos porque acredito que possa ser de interesse – e também como justificativa de meus comentários sobre as questões.

Questão: 32

No item 3, não há indicações no texto de que seu autor esteja apresentando as ideias principais da maioria dos trabalhos acadêmicos mais recentes. Em textos acadêmicos, como é o caso do texto de Andrew F. Cooper, muitas vezes seus autores não apresentam as ideias principais da bibliografia à qual se referem, mas sim uma seleção de argumentos que lhes interesse para o desenvolvimento argumentativo de seus próprios textos. As técnicas de seleção de argumentos são variadas (Cf. KANE, Thomas S. The Oxford Essential Guide to Writing. Nova York: Berkley Books, 2000, pp. 23-28), e não há indicações no texto de qual técnica foi usada por Cooper. Assim, não é possível determinar, apenas com base no excerto do texto que consta da prova, se Cooper fez referências às ideias principais ou às ideias que mais lhe interessaram, e pode haver alguma diferença entre esses dois conjuntos de ideias.

Além disso, o argumento de Cooper não é “built on” essas ideias que ele apresenta no primeiro parágrafo. No item, a estrutura que está sendo usada é “build something on something else” – só que na voz passiva -, e, quando “build” tem um objeto direto, seu sentido é de “base something on an idea or thing”, como no exemplo “Our relationship is built on trust” (Cf. http://goo.gl/CVaMBN). O argumento de Cooper não tem como base as ideias citadas no primeiro parágrafo, o que fica claro logo no início do segundo parágrafo, quando ele emprega “yet” para introduzir uma oposição entre o seu argumento e as ideias citadas. Enquanto as ideias citadas tratam da complexidade e da abrangência da diplomacia, seus argumentos estão relacionados à centralização, à hierarquização e à dependência de líderes que, a seu ver, caracterizam a diplomacia. “Build on” pode ter o sentido de “use your achievements as a base for further development”, mas o “verb pattern” é diferente daquele que foi usado no item, já que “build”, nesse caso, não tem objeto direto (como em “The new plan will build on the success of the previous programme”).

No item 4, por sua vez, o autor apresenta, no quatro parágrafo do excerto que consta da prova, uma oposição entre “club diplomacy” e “network diplomacy”: na “club diplomacy”, as decisões são tomadas principalmente por líderes que são “insiders” da diplomacia, enquanto que, na “network diplomacy”, as decisões podem ser tomadas por “outsiders”, desde que eles tenham conhecimento técnico, credibilidade institucional e recursos para melhorar os resultados. Assim, esses dois tipos de diplomacia são não só diferentes, mas também incompatíveis, já que a “club diplomacy” enfatiza a organização vertical do corpo diplomático, enquanto que a “network diplomacy” vislumbra a possibilidade de que alguém que não seja parte do corpo diplomático seja um líder em processos de tomada de decisão. Além disso, ambos os tipos de diplomacia podem ser considerados formas de resolução de conflitos internacionais, já que essa é uma possível definição para “diplomacy”. Christer Jönsson afirma que a definição de diplomacia é “a bone of contention” e dá diversos exemplos de definições no capítulo “Diplomacy, bargaining and negotiating”, algumas das quais contemplam a resolução de conflitos internacionais (Cf. CARLSNAES, Walter et al. (org.). Handbook of International Relations. Londres: SAGE, 2006).

Questão: 33

No item 3, “principals”, palavra que consta do texto e que é citada no item, certamente está em contraposição a uma organização horizontal da diplomacia, já que sugere alguma hierarquização vertical, pois “principal” quer dizer “the main person in a business or organization, who can make important business decisions and is legally responsible for them” (Cf. http://goo.gl/o80RPl). Se “principal” é a pessoa de maior importância, isso quer dizer que há pessoas de importância menor em termos hierárquicos, o que se contrapõe de forma clara a uma organização horizontal.

Questão: 44

No item 2, “blaze a trail” quer dizer, de acordo com o Dicionário Porto de Inglês-Português, “abrir caminho; ser pioneiro; ser percussor”, mas “open a glowing and intense path as a result of her work” não é uma paráfrase fiel da expressão. Além disso, “glowing path” e “intense path” não são colocações frequentes na língua inglesa (não há qualquer ocorrência de “intense path” no Corpus of Contemporary American English e a única ocorrência de “glowing path” no mesmo “corpus” traz um sentido de “glowing” que não se aplica ao texto do item – “glowing” no sentido de “shining with a soft warm light”). Isso significa que falta idiomaticidade ao item, o que causa dificuldades para a compreensão do significado do item. Conforme proposto por Michael Lewis (The lexical approach: the state of ELT and a way forward. Londres: Language Teaching Publications, 1993), reconhecer colocações frequentes é essencial para compreender sentidos, já que um idioma não é “lexicalized grammar”, mas sim “grammaticalized lexis”, sendo que “collocation” é o maior componente de “grammaticalized lexis”.

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